Como os brinquedos influenciam no nosso futuro

   Muitos pensam que os brinquedos são apenas para diversão das crianças, um meio de ocupá-las para não colocar a casa abaixo. Entretanto os brinquedos são muito, muito mais que isso. A pedagogia estuda, além das crianças em si, como as brincadeiras e os brinquedos influenciam na formação moral, ética e psicológica de nossas crianças. Vamos ver como um simples brinquedo pode definir tanto o nosso futuro.

   Costumamos dizer que as crianças são adultos em miniatura, sem a parte chata que todos temos. E o que damos para que essas miniaturas possam ocupar o tempo? Basicamente pegamos nossas ferramentas de trabalho e as diminuímos. Os brinquedos são uma prévia do que virá no futuro, uma espécie de treino para a nossa vida laboral de cada dia. Vemos isso com frequência no período matutino, onde os comerciais estão lotados de brinquedos e geringonças dos mais variados preços e tamanhos.São poucos os brinquedos que são apenas para diversão, se há algum que seja apenas para isso. Todos os brinquedos, de bonecas a bolas, têm um objetivo por trás. Resolvi escrever esse post em dois blocos, separando os brinquedos por gênero (masculino ou feminino), para organizar melhor a leitura. Então, vamos à primeira parte do texto, que trata do universo dos brinquedos masculinos.

Clube do Bolinha

   Desde os primórdios da humanidade, nossa sociedade é machista. Encontramos referências da "'superioridade" masculina, tanto mental como física, em diversas culturas de várias épocas diferentes. Assim sendo, os meninos são treinados desde cedo para se tornarem fisicamente superiores e estarem habituados com confrontos e discussões com outros meninos. Além disso o treinamento para o trabalho é marcante nas brincadeiras masculinas. Brinquedos como LEGO e kits de ferramentas treinavam os garotos para o trabalho braçal; carrinhos e aviões introduziam o menino à mecânica [além do fato de que antigamente uma mulher dirigir era algo raro]; armas de brinquedos e os comandos em ação ensinavam o garoto a ter "coragem", não levar desaforo para casa e se sair bem em uma briga, caso ela ocorra. Além disso, a bola criava o espírito de competitividade entre os rapazes, qualquer que fosse o jogo em questão [a competitividade era acentuada em jogos físicos, como o basquete e o futebol].

   Em resumo, os meninos eram treinados para o trabalho, acentuando sua competitividade. Mas, se os meninos eram treinados para o mercado de trabalho, o que sobrava para as meninas? Vamos descobrir na segunda parte do post.

Feminismo, onde?

   Vale lembrar que há 30 ~ 40 anos atrás as mulheres eram vistas como inferiores, mental e fisicamente, aos homens. Tendo isso em mente, as meninas eram treinadas para serem donas de casa, cuidando da família e da residência. E qual brinquedo nos vêm à mente quando pensamos em meninas? Bonecas, é claro.  Pode parecer estranho pensar assim, mas bonecas são bebês feito de plástico e, assim como os bonecos usados em treinamento de primeiro-socorros, as bonecas "treinam" as meninas para terem cuidado com seus filhos. A leitora feminista deve estar falando "mas não é a sociedade que 'treina' as mulheres para serem mães, o instinto materno é natural..." OK, concordo que o instinto materno é natural, mas a sociedade não treinava as mulheres para serem mães, treinavam-as para serem donas-de-casa, submissas, cujo o único aprendizado é cuidar de seus filhos e de sua casa, por isso os brinquedos femininos são ligados à vida caseira e à beleza. Além disso, brinquedos que inspiravam o afeto, como bichos de pelúcia, também fazia parte do dia-a-dia das meninas.


   Como puderam ver, a divisão social já era marcante desde da tenra idade. A famosa expressão "carrinho é coisa de menino, boneca é coisa de menina" já servia como uma forma de ensinar, desde cedo, o papel de cada um na sociedade. Agora vem a pergunta: depois de 40 anos, será que os brinquedos ainda estão fazendo essa separação? Vamos ver...

   Brinquedos estão bem mais unissex hoje em dia. Claro que dar uma "boneca chamego", toda em tons de rosa para um garoto de 12 anos está meio fora de sintonia. Mas o que eu digo é que houve uma mudança, ainda que sutil, na forma como os brinquedos são vistos. Além disso, uma nova variável fio acrescida na nossa sociedade, a tecnologia.
   Hoje em dia é bem comum dar de presente laptops e celulares de brinquedo para as crianças. Tenho primos que usam celulares [de brinquedo, claro] como típicos empresários de SP. Um deles tem 5 anos e já usa a internet. Detalhe, ele liga o computador, digita a senha de logon do pai, acessa o site de jogos e fica jogando. Resalto, 5 anos. Enfim, deixo de lado o momento família para continuar o post.

   O que quero dizer sobre os laptops de brinquedo é que agora as crianças estão sendo condicionadas a viverem cercadas de tecnologia, recebendo informações de todos os lados. Afinal, é muito provável que no futuro elas venham a utilizar notebooks, tablets e afins. Nada melhor do que começá-los a treinar desde cedo. Há sim, ainda, uma divisão entre brinquedos de meninas e de meninos, só que essa divisão é bem mais fraca e chega a nem estar presente em algumas famílias. O importante é ressaltar que os brinquedos definem a forma como seremos no futuro.
   É na infância, com as brincadeiras em grupo e os brinquedos em geral que começamos a moldar a forma de pensar da criança, onde ensinamos ética e moral, de forma sutil, claro. Da próxima vez que forem comprar brinquedos para seus filhos, sobrinhos, whatever, pense sobre o significado daquele brinquedo na educação da criança. Não estou dizendo para parar de dar brinquedos, totalmente o contrário, é mais pela curiosidade em saber como algo inocente pode mudar uma forma de pensar.



p.s.: pra quem não sabe, eu tenho automatonofobia, também conhecido como medo de bonecos. Vocês não sabem a dureza que foi pesquisar "bonecas" no Google...